Um gênero e dois papéis: mulher; mãe e profissional. Um obstáculo: sociedade com valores machistas. Um dilema: dedicar tempo maior aos filhos ou continuar trabalhando.
Essas equações tiram o sono de muitas mulheres que se tornam mães ou que já têm filhos. Como ainda é delegada a elas a tarefa de cuidar da casa e como flexibilidade e tolerância não costumam ser características do mercado, chega um momento em que os papéis se chocam: a mãe atropela a trabalhadora; a mulher deixa o emprego. Mas dos destroços dessa colisão, é possível edificar uma empreendedora.
Na antessala da virada empreendedora, há histórias com enredos que se repetem: trabalho, gravidez, licença maternidade, retorno à empresa, desligamento do emprego. “Parei de trabalhar quando minha filha nasceu”, conta Luciana Suzuki, 36 anos, extensionista de cílios (profissional que alonga os cílios).
Demissão e recomeço – Luciana, mãe de Sofia, de seis, e de Theodoro, de três anos, afirma que se sente realizada. Ela abriu recen
temente um negócio depois de quase sete anos fora do mercado. A hoje empreendedora na área de beleza deixou o trabalho por precisar de tempo para cuidar da filha, que estava doente. As faltas, embora justificadas, abalaram o emprego na agência bancária. “Um dia me chamaram no RH e me demitiram”, lembra-se.
Foi depois do nascimento do segundo filho e já morando em Campo Grande que Luciana iniciou o caminho para fazer do empreendedorismo a resposta ao impasse entre ser mãe e ser profissional. “Aqui em Campo Grande comecei a buscar alternativas para voltar a trabalhar, mas na área da administração seria o dia todo em qualquer empresa. Aí não teria tempo para as crianças”, afirmou.
No ano passado, Luciana decidiu, com o incentivo de uma amiga, investir em uma franquia. “Fui a São Paulo fazer um curso e, depois, comecei meu negócio”, resumiu. Ela é uma das empreendedoras do Casa Nuvem, espaço em que mulheres atuam em diferentes empresas, dividindo custos e fazendo investimentos conjuntos.
À frente do próprio negócio, Luciana tem tempo para trabalhar e se dedicar aos filhos. Mas engana-se quem pensa que ser mãe empreendedora é uma panaceia, que todos os problemas relativos a maternidade e carreira estariam sanados. “As dificuldades continuam. Tem dia, por exemplo, que preciso ficar até mais tarde e pedir para outra pessoa pegar as crianças na escola”, afirma.
São nesses contratempos que se manifesta outra importante característica do movimento do empreendedorismo materno: a rede de apoio, isto é, o universo de pessoas, grupos e instituições que ajudam (melhor: entreajudam) mães nas necessidades cotidianas para que continuem e cresçam como empreendedoras.
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